sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Os Bandidos
Assisti nessa quinta, pelo Porto Alegre em Cena, à pré-estréia da peça "Os Bandidos",com texto de Friedrich Shiller e direção do irreverente José Celso Martinez. Ela é uma obra satírica, bem –humorada, mas ao mesmo tempo intrigante e pesada.
Mesclando teatro, vídeo, música, canto e dança, sem falar na iluminação, a peça é um excelente espetáculo, muito bem produzido, em todos os sentidos. A entrega do elenco aos personagens é total. A qualidade do texto e das atuações, indiscutível. Tudo é tão cru, tão real que em determinadas cenas chega-se a sentir um mal estar, como a cena do parto, onde dá-se a luz a um feto sujo de sangue que em seguida é jogado longe. Tudo está ali, a sua frente, a poucos metros dos seus olhos... tudo ao mesmo tempo tão fabuloso e tão real... O público está exposto a todo momento aos sentimentos dos personagens. O medo, o asco, a repudia, a força, o desejo, o ódio, o amor, a ira, tudo está tão claro à frente do espectador, que não é possível não sentir o que está acontecendo. Quem assiste ao espetáculo está condenado a uma mescla incrível de inúmeras sensações se apoderando de si.
A peça faz inúmeras críticas e, uma delas, é ao magnata Silvio Santos. Quem conhece um pouco da história de Zé Celso e do Teatro Oficina, sabe que há anos o diretor trava uma batalha com o Grupo Silvio Santos, pois este queria adquirir o espaço ocupado pela companhia de teatro para construir um shopping. Hoje ele desistiu do shopping, mas parece que quer o terreno para construir prédios de luxo.
Há uma grande crítica também à Igreja. São críticas fortes que colocam em xeque os dogmas do catolicismo, que agridem de forma bruta e forte os preceitos do mundo cristão. Fala-se da hipocrisia na qual se sustenta e sempre se sustentou a Igreja Católica. A crítica é pesada, mas muito bem construída e articulada. “É filho do Papa”, diz-se em um momento da peça.
Há, como não poderia deixar de ser, muita exibição do corpo, do nu, do desejo ardente reprimido. No palco, os atores expõem os mais sórdidos desejos do ser humano. Desejos sexuais, carnais, homossexuais, orgeísticos... Desejos escondidos, condenados, reprimidos pela moral e pelos bons costumes, mas que ali se mostram de forma crua e sem pudor.
Esses dois temas, igreja e sexo, são ainda muito polêmicos e, por isso mesmo, descaracterizam a peça como sendo “para todos os gostos e para todos os públicos”, conforme consta na sinopse. Esta, de fato não é uma peça com essas características. Conheço inúmeras pessoas que, mesmo amantes do teatro, enfartariam em determinadas cenas. É uma peça muito interessante, mas é preciso estar preparado para não se chocar muito, para não se sentir muito mal, para apreciar o que ali é mostrado, dito, cantado...
O texto de Shiller, adaptado, é claro, também restringe um pouco o público, pois não é um texto fácil. É sim, um texto muito bem escrito, de muita qualidade, mas é preciso uma certa atenção para compreendê-lo. Até porque a peça é muito dinâmica, várias vezes o público não sabe para que lado olhar e fica virando a cabeça de um lado para o outro, enquanto escuta a intensa declamação dos atores. Falo desse dinamismo de forma muito positiva, pois é muito interessante esse jogo e, com certeza isso contribui e muito para prender a atenção do espectador ao longo das 5h de espetáculo. Destarte, não é um texto para todos os públicos, nem para todas as idades.
Irreverente, crítica, dinâmica, inquietante, satírica, engraçada, angustiante... essa é a peça de Zé Celso.
Por fim, me resta alertá-los que este texto não tem a pretensão de ser uma crítica, são apenas vãs divagações de uma agora amante do teatro.
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Um comentário:
Mayara,
O teatro sempre é fascinante e através da sua "crítica" fiquei com vontade de assistir a esta peça.
Bom, o texto está ótimo. Longo para os blogs que estou acostumado a acompanhar, mas não há uma regra fechada para isto mesmo.
Apenas, veja se consegues imagens de divulgação da peça para colocar junto à postagem. Assim, o texto vai balanceando com as imagens :)
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